sábado, 24 de maio de 2014

O Tempo passa voando



 
Mais uma noite passada,
E já outra vem a caminho.
O tempo não perde pitada,
Constante no seu destino.

Andando, levando, passando,
Jamais espera por alguém.
O tempo passa voando,
Sem se deter em ninguém.

Ele que é dádiva divina,
Oferta de amor profundo,
Constantemente nos ensina,
Que é o dono deste mundo.

E nós, absortos, não pensamos,
Que nele somos mais efémeros
Que um milionésimo de segundo!


   1985


terça-feira, 6 de maio de 2014

O Jardim do Rapaz de Bronze


                                      Recordo-me, com saudade,
Embora o tempo já vá longe,
De nos sentarmos sorridentes,
No Jardim do rapaz de bronze.
E de ele, com o olhar fixo em nós,
À sua frente, ver-nos de mão dada,
Na luz fulgente, da noite estrelada,
Quando éramos francos nas palavras,
E nos gestos comedidos.
Mesmo perante o fogo da paixão,
Que ateava o impulso dos sentidos,
Ao ritmo do bater do nosso coração.

Eram tempos da mocidade florida,
Que nem as sombras esvoaçando,
Embaraçam o rubor das cantigas,
Dos namorados ao luar trovando...

E por cima de nós, atentas e serenas,
Observando a nudez das nossas almas,
Crepitavam as estrelas, lá longe,
Ao compasso do nosso beijo apaixonado,
Diante do rapaz de bronze.
Que nos observava, com ciúme desmesurado,
Tentando compreender a nudez
Do nosso enlevo, nessa noite quente de Verão,
Quando a paixão sufocava as palavras:
Amo-te, amor do meu coração,
E a nossa inocência se quebrou,
Diante do rapaz de bronze,
Que ofegante nos acenou, 
Quando nos despedimos dele,
Depois de ter presenciado, com emoção,
O nosso primeiro beijo, delicado,
Nessa noite cálida de Verão.


Publicado no livro: "O Acordar das Emoções" - Tartaruga Editora. 




Olhar o Mar Confidente




Queria tanto ver-te, ó mar!
Saber como era a tua arte,
E o teu pensar.

Por isso, quando te alcancei,
Foi o deslumbramento:
O Gama, o Zarco, o Cabral,
O Bartolomeu, e os Tormentos,
S. Francisco, a missionar,
E o teu cheiro, ó mar!

Eu, que só vira o rio Sabor,
O meu mar menino, de amor!

Depois voltei para te ver
Mais uma vez, e outra vez mais.
Tentar descobrir no teu silêncio,
O Adamastor e outros monstros das Tormentas.
E o Camões, com a Poesia na boca,
Em segredo,
Desembainhar a espada,
E enfrentar o seu degredo.

Porque me tinham dito,
Que tudo isso era teu segredo,
Ó mar!

Como eram segredos teus as Sereias de Ulisses,
E o seu cantar de marinheiro,
Quando embalavam a cidade,
Que te presenteia,
Com a sua intimidade.

E também queria provar teu sal.
E ouvir-te suspirar na areia,
Ao fazeres amor com ela,
Nas noites de Lua cheia.

Era tudo isto, ó mar,
Que trazia guardado,
No meu peito imaculado,
Para te perguntar.

Mas tu, meu doce mar salgado,
Porque és tímido e reservado,
Mantiveste-te calado,
Ao meu desejo pertinente.

Mas, mesmo assim,
Desde esse dia,
Fiz de ti meu confidente.


Publicado no livro: "Passagens e Afectos" - Tartaruga Editora.