quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Aos poetas ausentes


“Os Poetas são como os faróis, dão chicotadas de luz na escuridão”
Miguel Torga – Hercília Agarez

Aos poetas ausentes

 

Poetas,
Vós que descansais
No Reino de Deus,
Onde creio que estais,
Eis-me aqui a suplicar,
Que não olheis para a minha poesia.
Embora saibais que ela brota de mim, sincera,
Para o vento a levar aos homens da serrania.
Porque são eles a dizer,
Que os homens da cidade
Não a sabem compreender.


Mas é bom saber,
Que o vento leva a poesia,
Aos homens da serrania.
Por isso, poetas,
Ausentes e presentes,
Fazei como eu,
E exultai comigo e com eles,
Fraternalmente.
Porque a Poesia não morreu,
Ela viverá eternamente!



In Livro "Memórias e divagações" -  Poética Edições 



sábado, 19 de outubro de 2019

O Pão da Minha Mãe


O Pão da Minha Mãe



Mãe,
Do pão que eu mais gostei, 
Foi do teu, feito da farinha
Que peneiravas na peneira,
E cozias no forno,
Junto da lareira,
Com a côdea sem adorno.
Que me sabia bem, tão bem,
Quando o comia,
Contente e a saltitar,
De braços abertos,
Para te abraçar.

E sabes por quê, minha mãe?
Porque tu misturavas nele,
A mística do teu saber.
Na forma circular e na maneira
Como rezavas diante do forno,
Aquecido com ramos de oliveira,
E o temperavas com sal marinho,
Antes de o adormeceres na masseira.

(Esse pão, minha Mãe,
ficou gravado no meu peito menino,
e acompanha os passos do meu destino.)

E sabes por que foi esse pão,
Minha mãe,
Aquele de que eu mais gostei,
E acompanha os passos do meu destino?
É porque ele também era,
Como sabes bem,
Trabalho do homem e fruto da terra.

E continha na sua génese,
O teu abençoado pão,
Não o Corpo Místico de Cristo,
Mas o saber da tua alma,
E o amor do teu coração.

In Livro “ O Acordar das Emoções” – Tartaruga Editora.



segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O MEU ECO DE MENINO


O meu eco inocente,
Soltava-se da minha voz,
E corria pelo vale,
Desde a nascente até a foz.


Mas, agora,
Cansado e velhinho,
Já não conhece o vale,
Esqueceu-se do caminho,

Esqueceu-se do caminho,
E chora, mas fá-lo baixinho.
Ao ver que o vale se afundou
Com o meu grito de menino.

Quando do cume da montanha,
Chamava pela minha mãe.
E depois o eco lá vinha,
A chamar por ela também:

Mãããããeeeeeeeeeee…

domingo, 13 de outubro de 2019

O meu medo


O meu medo


Eu tenho medo
não de morrer
por falta de água e pão.

Não
não é disso
que eu tenho medo.

Mas sim
eu tenho medo
de estar só.

Sem ouvir uma voz
Cercado
De solidão.


           João de Deus Rodrigues

            Charneca, Outubro de 2019