Rio Sabor,
Tu, como era um deus-rio
sábio e bondoso,
Fizestes uma escolha boa e
harmoniosa,
Ao escolheres um local
aprazível,
Servido por gente honesta e
bondosa,
Com espaços abertos e
despoluídos,
Para as aves voarem em todos os
sentidos.
Com lindas espécies da fauna e
da flora,
Que lá nasceram em boa hora,
Para embelezarem a mãe-Natura.
Essa doce e generosa criatura,
Que zelou por eles, por ti, e
por nós,
E que te ampara da nascente até
à foz.
E um leito, granítico e
inclinado,
Para no Inverno correres veloz,
Os cento e vinte quilómetros da
tua extensão,
Por entre sombras de luz e paz,
Ladeado de rochas cantantes,
Que devolvem o eco timbrado
Das canções dos pastores,
Que apascentam o gado.
E a dos lavradores e ceifeiros,
Que recolhem o pão sagrado.
E para completar esse Éden,
Cavaste vales, estreitos e
profundos,
Para reterem o sabor e o cheiro
De frutos e de flores silvestres,
o ano inteiro.
E depois, para além de tudo
isso,
Ainda profetizaste:
- Não haverá nas minhas águas,
Em tempo algum, guerras.
Nem barcos movidos a vapor;
Nem submarinos nucleares;
Nem pontes metálicas com
andares;
Nem auto-estradas a quebrarem o
sossego;
Nem o TGV a passar sobre mim,
Para transportar doutores para o
emprego...;
Nem outras modernices assim…
E de facto assim foi, profeta rio
Sabor.
Porque, durante milhões de anos,
E até ao presente,
Cumpriu-se a tua profecia,
Para desespero de muita gente.
(Publicado no livro "Homenagem ao Rio Sabor" - Tartaruga)