quarta-feira, 29 de agosto de 2018

O Pão da Minha Mãe



Mãe,
Do pão que eu mais gostei, 
Foi desse, feito da farinha,
Que peneiravas na peneira,
E cozias no forno,
Junto da lareira,
Com a côdea sem adorno.
Que me fazia cócegas quando o comia,
Contente e a saltitar,
De braços abertos,
Para te abraçar.

E sabes porquê, minha mãe?
Porque tu misturavas nele,
A mística do teu saber.
Na forma circular e na maneira
Como rezavas diante do forno,
Aquecido com ramos de oliveira,
Quando o temperavas com sal marinho,
Antes de o adormeceres na masseira.

(Esse pão, minha Mãe,
ficou gravado no meu peito menino,
e acompanha os passos do meu destino.)

E sabes por que foi esse pão,
Minha mãe,
Aquele de que eu mais gostei,
E acompanha os passos do meu destino?
É porque ele também era,
Como sabes bem,
Trabalho do homem e fruto da terra.

E continha na sua génese,
O teu abençoado pão,
Não o Corpo Místico de Cristo,
Mas o saber da tua alma,
E o amor imenso do teu coração.

In Livro “ O Acordar das Emoções” – Tartaruga Editora.



segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A minha Mãe e o Búzio e o Mar.


                  Soneto

Colocaste-me o búzio no ouvido.
Foi no esquerdo, estou bem certo,.
Para que ouvisse, em silêncio contido,
O murmúrio do mar, ali tão perto.

E eu assim fiquei alegre e quedo,
A ouvir o mar no infinito.
Junto ao mito, esse segredo,
Que me desvendaste, tão bonito!

Mas nem tu nem eu sabíamos o Mar!
Essa imensidão azul, obra de Deus,
Que um dia havia de procurar,

Lá longe, muito longe, além da serra.
Para te levar a vê-lo, bem de perto,
Quando findasse aí o deserto.

  In livro: “ O acordar das emoções” – Tartaruga Editora



quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Fui ver a minha aldeia



Fui ver a minha aldeia,
A terra que me viu nascer.
Trago-a comigo na ideia,
Jamais a poderei esquecer.

Casas, lugares e pessoas,
Fazem parte da memória.
De coisas tão belas e boas,
O âmago da minha história.

A igreja onde fui baptizado,
Com o sino que anunciou,
O cristão que ainda hoje sou.

A casa que me viu nascer,
Está tão só e abandonada,
Que vê-la assim fez-me sofrer.

           João de Deus Rodrigues

            Morais, 12 de Agosto de 2018