A primeira água
que me deste a beber,
Minha mãe, foi
na concha da tua mão,
Tinha eu
acabado de nascer.
E parece que te
estou a ver,
A segurares-me,
maternalmente,
Nas palmas das
tuas mãos de luz,
Quando emergi
do primeiro banho,
No teu quarto
caiado de branco,
No dia que me
destes à luz.
E foi nesse
banho,
Minha mãe, que
tu, então,
Levaste na
concha da tua mão
Finas gotas de
água cristalina
Aos meus
lábios, e disseste:
- Bebe, meu
filho, a água que temperaste,
Para que
ninguém te moleste.
E eu bebi uma
gota dessa água sem sal,
E
aconchegaste-me na toalha de linho,
Estendida no
teu regaço maternal,
E depois enxugaste o
meu corpinho,
Frágil e fino,
para me elevares ao teu peito anafado,
Para mamar o teu leite abençoado.
(Eu sei que
foi assim, minha Mãe,
Porque está
no meu coração gravado)
Mas depois eu
cresci e parti,
Minha Mãe,
Mas o meu
coração cresceu também,
Para tu caberes
nele, sempre igual,
A esse dia
primordial,
Em que me
destes a beber essa água,
Na concha da
tua mão.
E deixei-te
ficar sozinha,
Por não te
poder levar comigo, minha mãe.
E, por isso, é
grande a minha mágoa.
E continua
triste o meu coração!
Livro "O acordar das emoções" - Tartaruga Editora
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