Sentávamo-nos à
sombra da figueira,
Junto ao regato,
eu e a minha mãe,
E falávamos de
coisas várias.
Como, por exemplo,
das serras e dos montes,
Dos rios e das fontes,
do Céu e do Inferno,
Do bem e o mal, do
Verão e do Inverno,
E de outras coisas,
do dia-a-dia, na nossa casa.
Mas nunca
falávamos da vida alheia!
Nunca. Esse tema,
para nós, família,
Era assunto que não
pairava na nossa ideia.
“Quem mora no convento, é que sabe o que vai lá dentro…”
“A vida das outras pessoas é com elas, não nos
interessa…”
“Quem fala mal dos outros, de si ouve…”
Isto era,
rigorosamente, verdade.
Mas da nossa família
falávamos muito:
Da saúde dos meus
avós maternos, seus pais;
Porque não fui para o Brasil com o meu padrinho;
Nem a estudar
para o seminário, para ser padre;
Porque baptizava filhos de ciganos,
E os pais lhe chamam comadre;
Como se semeavam as terras e lavravam os olivais;
Como seriam as
estrelas, e outras coisas que tais...
E um dia estávamos
sentados
Debaixo da figueira, a conversar,
E veio um melro e
comeu um figo.
Os figos também
eram pretos, como o melro.
Eu quis enxotar o
melro, mas a minha mãe não deixou,
E disse-me: não
faças isso!
O melro também tem filhos, como tenho eu,
E os figos foi
Deus que no-los deu, de graça também...
Nunca esquecerei
esta bela lição da minha mãe!
Livro "Memórias e Divagações" - Poética Edições
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