Homens parem
de gritar,
E ouçam o
silêncio do vento.
E meditem nos
segredos do mar,
E na imensidão
do firmamento.
E contemplem,
também,
A coisa mais
preciosa que o mundo tem:
Uma criança.
Reparem na
candura do sorriso dela, a brincar
No colo de sua
mãe, no aconchego do doce lar.
Longe,
Bem longe, do
alcance de déspotas avarentos,
Que passam
momentos
A jurar que só
querem o bem,
De todas as
crianças que o mundo tem.
Porque elas
são lindas e queridas,
Anjos
inocentes, o melhor das suas vidas.
Mas, isso, é
só ruído.
Palavras
dolentes, sem sentido,
Dos que não
querem ver
Tanta criança
a sofrer,
Por esse mundo
além,
Abraçadas ao
peito da sua mãe,
Chupando peles
gretadas,
Que a sede e a
fome ressequíram,
E jazem
sentadas, junto do seu amado Ser,
De olhos
enxutos, sem lágrimas para verter.
Ó
desumanidade!
Ó crueldade!
Ó Senhor meu
Deus,
Dizei-me por
favor,
Porque há
tanta criança abandonada,
A perecer com
sede e com fome,
Torturadas
pela dor,
Com a
complacência de parte da humanidade?
Enquanto ao
som de trombetas,
Em salões
forrados de veludo,
Há criaturas
que fazem juras, e tudo,
Dizendo que só
querem o bem
De todas as
crianças,
Porque elas
são o melhor que o mundo tem.
Ó desfaçatez!
Ó Ingratidão!
Porque não
calam elas a sua usura,
E refreiam a
sua ambição?
E não pensam,
por uma vez,
Que as
migalhas que sobram da sua mesa,
E o escorrer
das suas taças de cristal,
Bastavam para
não morrerem,
Com fome, com sede e com
mal,
Tantas
crianças que juram amar.
Sim, ó vós?
Que em verdade
sabeis
Que elas estão
a padecer.
Enquanto
assobiais,
Julgando-vos
imortais.
Ó mundo cruel,
O vosso, com
tão amargo fel!
Guardai as
vossas lágrimas,
De serpente
rastejante.
Guardai os
vossos lamentos e ais,
Mas não venham
dizer, de ora avante,
Ou jamais,
Que não sabeis,
de verdade,
Dessas
crianças com tanta necessidade.
Ou será que o
fazeis,
Para melhor
adormecerdes
Sobre o peso
da vossa consciência
Que julgais
ser leve,
E pesa mais
que o bronze.
Enquanto, não
longe,
Se fina, num
contínuo permanente,
Tanta criança
inocente.
Não. Não
venham com a falsa bondade,
Nem com a
vossa sacra fé.
Porque isso
mais não é
Que a negação
da caridade.
O que me leva a
acreditar,
Que nem os
dóceis vermes da terra
Hão de querer
tragar,
Os vossos
corpos fedorentos.
E as moscas, e
as formigas,
E até os
ratos, seguirão tais intentos.
Ide para os Infernos,
Criaturas com
tais sentimentos.
Ah!, se eu
pudesse lançar um raio
Aos vossos
corações de besouro,
Que vos
afogasse nos palácios de ouro,
Erguidos sobre
o sofrimento de tanto inocente,
Eu o faria, num
repente!
Sumam-se!
Porque até o
doce mar profundo
Não vos há de
querer sepultar.
Nem as flores
silvestres,
Emprestar o
seu perfume.
Evaporem-se,
Corja de
malfeitores.
Para que haja
um mundo melhor,
Mais generoso
e fraterno,
No amor e na
esperança,
Com o sorriso
de uma criança!
Mas não vos
esqueçais,
Que partis sem
o perdão dos que cá ficam.
E sem a
misericórdia e contemplação,
Dessas
crianças que estão no Céu,
Enviadas
pela vossa mão.
In livro "O acordar das emoções" - Tartaruga Editora
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