domingo, 14 de agosto de 2016

Os Cheiros


O lavrador cheira a terra,
E o Outono a trigo semeado.
A pólvora cheira a guerra,
E o pastor a leite e gado.

A lavadeira cheira a roupa limpa,
E o ferreiro a ferro quente.
O lameiro cheira a erva e feno,
E o teu sorriso a inocente.

A primavera cheira a flores,
E o verão a praia e mar.
A mocidade cheira a amores,
E a velhice a descansar.

O vinhedo cheira a mosto,
E o Inverno a neve e geada.
E o luar cheira a Agosto,
E a noite a madrugada.

O pobre cheira a fome,
E o rico a riqueza.
E o trabalho cheira a home,
E a toalha a pão na mesa.


   Poema a publicar no meu próximo livro de poesia.
        14 Julho de 2016 -   João de Deus Rodrigues 


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O Poema que não quero escrever…



  
Se alguém ousasse escrever um poema,
Com palavras nunca ditas nem inventadas,
O que diria nesse poema?
Não sei. Nunca ninguém o escreveu,
Nem a tal se atreveu…

É verdade que nasce luz da utopia,
Mas eu pergunto o que se diria,
Num poema assim escrito…
Sim, que mensagens e sentimentos,
Que pensamentos e alegorias teria
Um poema sem imagens nem poesia?

Não sei. Eu não quero usar palavras
Sem carácter e sem mensagem e harmonia,
Para escrever um poema sem amor,
E sem beleza e fantasia...

Porque um poema só é poema,
Quando é escrito com amor,
Com raiva, e com alguma utopia…
Porque só assim é mais verdadeiro,
Só assim tem mais poesia.

  In Livro "Memórias e Divagações" - Poética Edições

As Palavras




É com palavras que se descreve,
Tudo aquilo que existe no mundo.
É com elas, que se declara a guerra
E proclama a paz, num segundo.

É com palavras que se agride o inocente,
E se dá voz de prisão ao agressor reincidente.
E se pede o pão,
E se diz sim ou não.

Palavras!
Códigos de letras,
De sílabas e de frases,
Com que se incita à guerra,
E se apela à paz.
Arquitectura de notas musicais,
Transformadas em sons celestiais,
Por homens imortais.
Símbolos gravados no bronze,
Em papiros, mausoléus e catedrais.
A harmonia com que se fazem orações,
Se compõem poemas de amor,
E se excitam corações...

Palavras:
Terna, é a palavra mãe.
Bela, é a palavra amor.
Doce, é a palavra flor.
Fina, é a palavra bem.
Feia, é a palavra eu.
Triste, é a palavra fome.
Horrível, é a palavra guerra.
Horrenda, é a palavra mentira.
Horripilante, é a palavra egoísmo.

E frases belas são estas, também,
No seu sublime esplendor:
Obrigado, minha querida mãe!
Hei de amar-te sempre, meu amor! 

   In: Livro " Memórias e Divagações" -  Poética Edições