sábado, 30 de maio de 2015

O Lago dos Girinos



 

Abeirava-me do lago,
Pé-ante-pé, com mil cuidados,
Para ver os girinos pousados na minha face.
E eles, com os olhos arregalados,
Abanavam a cauda e olhavam para mim,
E eu olhava para eles, sem disfarce,
Todas as manhãs.
E como o tempo era nosso,
Esperávamos que ele passasse,
Para sermos grandes.
Eu, do tamanho dos homens,
Eles, do tamanho das rãs…

Enquanto na outra margem do lago,
A mãe dos girinos coaxava,
Em cima de um nenúfar branco, 
Virada para o sol nascente.
Que também ele a escutava,
Brilhando, sorridente...

E eu ia cheirar as violetas,
Companheiras do lago,
Feliz e contente.
À espera de ser grande.
À espera de ser gente!  


       Do Livro: "Memórias e Divagações" - Poética/Edições

Gosto da minha cidade!



Gosto da minha cidade, 
E por isso emprestei-me a ela.
E ela quis-me como filho seu.
Sem limites.
Por isso, a cidade é minha, também,
E eu sou dela,
Pelo mesmo motivo.
O Tejo
O Castelo de São Jorge
O Cais das colunas
Os jardins e monumentos de Belém
O estádio da Luz
O elétrico 28
O Poço do Borratém…
Tudo isto foi meu
Em algum instante
No espaço dos passos.

Mas, mesmo assim,
Apetece-me o silêncio das pedras
O cheiro da terra
O brilho das estrelas
E o perfume das serras

Porque, primeiro, eu fui filho das fragas!


          Do Livro " Memórias e Divagações" - Poètica/Edições

O colo da minha mãe



 
Mãe, o teu colo era tão doce e acolhedor,
Quando me sentavas nele,
Com o primeiro dentinho a despontar,
E sorrias para mim, cheia de amor!
Depois, embalavas-me junto ao teu coração,
E fazias-me carícias dizendo baixinho:
“Que menino bonito tem a sua mãe,
Que já sorri para ela e a conhece bem!…”

E eu olhava para ti, sorridente,
E agarrava no teu dedo mindinho,
E levava-o à boca, ao meu dentinho,
Com gestos que eram, estou certo,
O universo do meu mundo secreto…

Mundo que te dava a conhecer,
Com as minhas mãozinhas, a esbracejar,
E com o meu primeiro palrar… 
Quando tu beijavas os meus olhos sonhadores,
Que fixavam os teus, até que adormecia,
Candidamente, sorridente e feliz. 

Eu sei que era assim que acontecia,
Minha querida mãezinha, 
Porque é o coração que mo diz. 


    Livro: "Memórias a Divagações" - Poética/Edições