quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A minha mãe o búzio e o mar



        
Colocaste-me o búzio no ouvido.
Foi no esquerdo, estou bem certo.
Para que ouvisse em silêncio contido,
O murmúrio do mar, ali tão perto...

E eu assim fiquei, alegre e quedo,
A ouvir o mar no infinito.
Junto ao mito, esse segredo,
Que me desvendaste, tão bonito!

Mas nem tu nem eu sabíamos o Mar!
Essa imensidão azul, obra de Deus,
Que um dia havia de procurar.
Lá longe, muito longe, além da serra.
Para te levar a vê-lo, bem de perto,
Quando findasse aí o deserto.


 Publicado no Livro: " O Acordar das Emoções" - Tartaruga - Editora 


O Viandante das Flores




Para quem seriam as flores,
Que o viandante, descalço,
Levava naquele abraço?

Eram flores campestres,
Criadas na berma da estrada,
Que assim acarinhadas, junto ao peito,
Só podiam ser para uma amada!

Caminhava o viandante,
Sobriamente,
Agarrado ao seu ramo,
Confidente,
No tempo sem horas.
Levando com ele
Todo o seu mundo:
Flores campestres,
Uma mochila,
Cabelos soltos ao vento,
E no pensamento, talvez,
A presença do seu amor.

Quem sabe se platónico,
Se não correspondido,
Ou se para sempre perdido!

Mas levava-lhe flores,
O viandante dos amores.
E não se deteve,
Quando passou por mim.
Apenas sorriu, indiferente,
Abraçado àquelas flores,
Vencendo a estrada,
A caminho da sua amada.

Porque, naquele momento,
É o Amor que o coração e a alma reclamam.
E por isso são felizes,
Todos aqueles que amam. 

   Publicado no Livro: " Passagens e Afectos" - Tartaruga - Editora   



Porque Não Choram os Deuses?



 
Dizem que os deuses não choram.
Foi isso o que eu ouvi.
Mas então pergunto a eles:
Será que quem não chora não ri?

É por isso que eu lhes digo,
Que sou um ser com emoção.
Um homem que chora e ri,
De alma e de coração.

E que tenho tempo para sentir,
Uma lágrima rolar na minha face, risonha.
Quando a felicidade me invade,
Ou a alma já não sonha.

Oh!, Divindades,
Porque não chorais vós?
Será que sois insensíveis,
E não amais, como nós?

Então, se assim não é,
Sorri e chorai,
E não vos envergonheis.
Porque se assim não for,
Quero crer que não amais.
E nunca perdestes um filho,
Para chorar por ele de amor.



Publicado no livro: " O Acordar das Emoções" - Tartaruga - Editora