AMAR É PRECISO

Amor, com amor se paga,

Dizia-me a minha mãe.

Porque o desamor é praga,

Que não se deseja a ninguém.

           João de Deus Rodrigues

                        Lisboa, 26/10-2018

O Primeiro Canto

 

Cantava para me ouvir,

E ter gosto no cantar.

Os versos que aprendi,

Sem mágoas para calar.

Cantigas alegres, 

Com voz timbrada.

De uma criança 

Não preocupada.

Tantas cantigas, 

Tantas canções.

Semeei no vento 

Como orações.

Em cima de árvores e sobre montes,

Cantei ao vento trovas do meu querer.

Mas o vento não me respondia,

Por não saber o que me dizer…

E foram tantos os cantos,

De elevação ao céu,

Que ainda oiço os versos,

Que o eco me devolveu.

    In Livro "O Clamor dos Campos" - Colibri Editora

HOMENAGEM AOS PROFESSORES

A primeira aula

Já pairava no ar o cheiro a vinho mosto,

O dia solarengo, recordo-o bem.

De sacola ao ombro, sorriso no rosto,

Sou entregue ao Mestre pela minha mãe:

Senhor Calijão, faça favor.

Olá João, seu mariola,

Entra, e trás a sacola.

Mãe, o senhor sabe o meu nome,

E só me viu agora...

Voou o tempo, ao som da minha lousa,

Ao ritmo do lápis a gatafunhar.

E em frente ao velho portão, carcomido,

Saltitando desprendido, gritei:

Minha mãe,

Vem ver o que aprendi a fazer!

Mostra meu filho, deixa-me ver.

Oh!, que bonito, tu já sabes escrever.

E logo dois braços abertos,

De encontro ao meu coração.

E duas lágrimas rolaram,

Na minha primeira lição.

             João de Deus Rodrigues

In Livro “O clamor dos campos” – Edições  Colibri