sábado, 2 de maio de 2020

A Primeira Água que Bebi


A Primeira Água que Bebi


A primeira água que me deste a beber,
Minha Mãe, foi na concha da tua mão,
Tinha eu acabado de nascer.

E parece que te estou a ver,
A segurares-me, maternalmente,
Nas palmas das tuas mãos de luz,
Quando emergi do primeiro banho,
No teu quarto caiado de branco,
No dia que me deste à luz.

E foi nesse banho,
Minha Mãe, que tu, então,
Levaste na concha da tua mão,
Finas gotas de água cristalina
Aos meus lábios, e disseste:
Bebe, meu filho, a água que temperaste,
Para que ninguém te moleste.

E eu bebi uma gota dessa água sem sal,
E aconchegaste-me na toalha de linho,
Estendida no teu regaço maternal,
E enxugaste o meu corpinho, frágil e fino,
E levaste-me ao peito, generoso e anafado,
Para que mamasse o teu leite abençoado.

(Eu sei que foi assim, minha Mãe,
Porque está no meu coração gravado.)

Mas depois eu cresci,
Minha Mãe, e parti.
Mas o meu coração cresceu também,
Para tu caberes nele, sempre igual,
A esse dia primordial,
Que me destes a beber essa água, 
Na concha da tua mão.
E deixei-te ficar sozinha,
Por não te poder levar comigo, minha Mãe.

E, por isso, Mãe, é grande a minha mágoa.
E continua triste o meu coração!


      João de Deus Rodrigues

Publicado no Livro “ O acordar das Emoções” – Editora Tartaruga.

                  


sexta-feira, 1 de maio de 2020

VIVA O PRIMEIRO DE MAIO

Viva o Primeiro de Maio


Mais um Primeiro de Maio,
Dia consagrado ao trabalhador.
Assim chamado, sem desmaio,
Por todos quantos, com amor,
São felizes a laborar noite e dia.
Numa luta persistente,
Contra o medo e a opressão,
Para dar aos filhos o abençoado pão.

Gente valente e abnegada,
Que quase só vive para o labor,
Pelo mísero salário,
Que lhe paga o seu senhor.
Que é como quem diz:
Trabalha para comer, e enriquecer o País.
E mesmo assim, é gente feliz!

Gente que canta, salta e que grita,
Pelas ruas e avenidas da Cidade.
Onde jovens, com pandeireta,
E gigantones, com risonha careta,
Se pavoneiam mascarados dos amigos da treta,
Que lhes prometem bom trabalho.
E depois lhe subtraem a pouca cheta,
Que resta do pequeno salário.
Deduzidos que são,
Os impostos que um certo papão
Lhes leva, sem dó nem compaixão.

Mesmo quando um honesto trabalhador,
No seu Dia Primeiro de Maio,
Lhe lembra que sem o seu saber e labor,
O sonho não passava de um tímido ensaio.
E que a construção das pontes e das cidades
Ficava para as míticas calendas,
De que tanto nos falam as lendas…

Por isso, aqui deixo o meu louvor,
A todos aqueles que, com alegria e fervor,
Vêem para a rua festejar o dia de quem trabalha:
Na terra, no céu e no mar, até que a vida o consome.
Quantas vezes, com sede, com frio e com fome,
Na sua nobre condição de honrado trabalhador!

                João de Deus Rodrigues.

                            Maio de 2014