Foi antanho, é passado,
Mas a memória devolve tudo:
Uma mulher, a roca, o linho fiado,
Mas não se fiavam as barbas ao
Entrudo!
Mão ágil, fósforo aceso, a estopa
queimada.
Uma pedra que sai da mão,
E a cabeça rachada, ao vizinho
Sebastião.
Uma mulher, as estopas a arder,
A ousadia, o drama, a agressão.
Porque os homens da aldeia faziam tudo,
Para que não se fiassem as barbas
ao Entrudo,
Para manter viva a tradição.
Enquanto na cozinha, à luz da
candeia,
Quatro gerações junto à lareira,
Festejavam o Carnaval, sem
máscaras.
Essas coisas do demónio tentador,
Porque só eram permitidas
brincadeiras,
De deitar farinha na cabeça,
E contar “estórias”, leves e
brejeiras…
E toda aquela boa gente,
De cara descoberta, alegre e
contente,
Passava a noite de Carnaval,
Com uma estridente gargalhada,
Até ao romper da madrugada...
Era assim o Carnaval na minha
infância,
Em casa dos meus avós maternos,
A tão longínqua distância!
Onde não eram conhecidos corsos
carnavalescos,
Nem desfiles de foliões,
pitorescos.
João de Deus Rodrigues