sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

O Carnaval na minha infância (memórias)



Foi antanho, é passado,
Mas a memória devolve tudo:
Uma mulher, a roca, o linho fiado,
Mas não se fiavam as barbas ao Entrudo!

Mão ágil, fósforo aceso, a estopa queimada.
Uma pedra que sai da mão,
E a cabeça rachada, ao vizinho Sebastião.

Uma mulher, as estopas a arder,
A ousadia, o drama, a agressão.
                                
Porque os homens da aldeia faziam tudo,
Para que não se fiassem as barbas ao Entrudo,
Para manter viva a tradição.

Enquanto na cozinha, à luz da candeia,
Quatro gerações junto à lareira,
Festejavam o Carnaval, sem máscaras.
Essas coisas do demónio tentador,
Porque só eram permitidas brincadeiras,
De deitar farinha na cabeça,
E contar “estórias”, leves e brejeiras…  

E toda aquela boa gente,
De cara descoberta, alegre e contente,
Passava a noite de Carnaval,
Com uma estridente gargalhada,
Até ao romper da madrugada...

Era assim o Carnaval na minha infância,
Em casa dos meus avós maternos,
A tão longínqua distância!
Onde não eram conhecidos corsos carnavalescos,
Nem desfiles de foliões, pitorescos.

                          João de Deus Rodrigues

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