quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A árvore dos segredos



Sentávamo-nos à sombra da figueira,
Junto ao regato, eu e a minha mãe,
E falávamos de coisas várias.
Como, por exemplo, das serras e dos montes,
Dos rios e das fontes, do Céu e do Inferno,
Do bem e o mal, do Verão e do Inverno,
E de outras coisas, do dia-a-dia, na nossa casa.
Mas nunca falávamos da vida alheia!
Nunca. Esse tema, para nós, família,
Era assunto que não pairava na nossa ideia.
“Quem mora no convento, é que sabe o que vai lá dentro…”
“A vida das outras pessoas é com elas, não nos interessa…”
“Quem fala mal dos outros, de si ouve…”

Isto era, rigorosamente, verdade.
Mas da nossa família falávamos muito:
Da saúde dos meus avós maternos, seus pais;
Porque não fui para o Brasil com o meu padrinho;
Nem a estudar para o seminário, para ser padre;
Porque baptizava filhos de ciganos, 
E os pais lhe chamam comadre;
Como se semeavam as terras e lavravam os olivais;
Como seriam as estrelas, e outras coisas que tais...

E um dia estávamos sentados 
Debaixo da figueira, a conversar,
E veio um melro e comeu um figo.
Os figos também eram pretos, como o melro.
Eu quis enxotar o melro, mas a minha mãe não deixou,
E disse-me: não faças isso! 
O melro também tem filhos, como tenho eu,
E os figos foi Deus que no-los deu, de graça também...

Nunca esquecerei esta bela lição da minha mãe!

Livro "Memórias e Divagações" -  Poética Edições  



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