domingo, 7 de maio de 2017

A Primeira Água que Bebi


A primeira água que me deste a beber,
Minha mãe, foi na concha da tua mão,
Tinha eu acabado de nascer.

E parece que te estou a ver,
A segurares-me, maternalmente,
Nas palmas das tuas mãos de luz,
Quando emergi do primeiro banho,
No teu quarto caiado de branco,
No dia que me destes à luz.

E foi nesse banho,
Minha mãe, que tu, então,
Levaste na concha da tua mão
Finas gotas de água cristalina
Aos meus lábios, e disseste:
- Bebe, meu filho, a água que temperaste,
Para que ninguém te moleste.

E eu bebi uma gota dessa água sem sal,
E aconchegaste-me na toalha de linho,
Estendida no teu regaço maternal,
E depois enxugaste o meu corpinho,
Frágil e fino,
para me elevares ao teu peito anafado,
Para mamar o teu leite abençoado.

(Eu sei que foi assim, minha Mãe,
Porque está no meu coração gravado)

Mas depois eu cresci e parti,
Minha Mãe,
Mas o meu coração cresceu também,
Para tu caberes nele, sempre igual,
A esse dia primordial,
Em que me destes a beber essa água, 
Na concha da tua mão.
E deixei-te ficar sozinha,
Por não te poder levar comigo, minha mãe.

E, por isso, é grande a minha mágoa.
E continua triste o meu coração!

      Livro "O acordar das emoções" - Tartaruga Editora

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