sábado, 26 de maio de 2018

A chegada dos piercings à Capital…



A Capital, de repente, perdeu a virgindade; 
Os bilhetes operários; o hábito de as mulheres
Andarem a varrer a rua com a saia;
Os homens deixaram de ir de fato e gravata para a praia;
Os fumadores deixaram de deitar o fumo do cigarro 
Na cara das senhoras, nos eléctricos dos Prazeres e da Graça...;
Os namorados para darem um beijo terem que esperar
Pelos arraiais dos santos populares, ou ir a Feira Popular
Para dar uma voltinha no comboio fantasma….

De facto, tudo isto, de um momento para o outro, deixou de fazer
Parte da história e foi lançado ao rio, às ninfas do Tejo,
Quando o eco das avenidas convidou ao prudente silêncio nas vielas.
Porque o futuro da cidade, passava pelos piercings das donzelas,
Que, de umbigo à mostra e mamilos arrebitados, faziam rejubilar
Os deuses e os rapazes, a dizerem para elas:
- Ó minha coisinha boa, tens cá uma barriguinha,
Para fazer pressão sobre a minha...
E era lesta a gargalhada delas, que, de pronto os abraçavam e respondiam ao remoque do gracejo:
- Mas que ternura meu amor, meu anjo sedutor! 
E logo ali, em frente de toda a gente, se davam na boca um beijo,
E se sentavam na esplanada, a beber cerveja, cheios de amor!

Isto, nos ternurentos anos setenta do século XX, da era do Senhor…

            In Livro “ Memórias e Divagações” – Poética Edições.

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