domingo, 24 de janeiro de 2016

O Berço de um Néctar Divinal



É Outono,
E o vento abraça parras sem dono,
E leva-as com ele, bailando no ar,
Para as lançar ao mar.
Enquanto em baixo corre o Douro,
Serpenteado e bravio,
Ladeado de socalcos cor de ouro,
Com gente a vindimar ao desafio.

Gente rija e calejada como o rio,
Que os viu crescer junto do seu leito.
Gente que trabalha e canta ao desafio,
Velhas canções gravadas no seu peito.
Com vozes firmes e timbradas,
Que ecoam sobre o vale,
Para irem ao encontro das águas prateadas,
Que as embalam, docemente, até ao mar.
Que as recebe contente, porque conhece bem
O cheiro do mosto doce, quente e repisado,
Das uvas que o Douro tem.
Com o qual se faz um vinho divinal,
Que alegra o coração do mundo,
E a alma das gentes de Portugal.

Um néctar que os deuses saboreiam no céu,
Em dias de festa celestial.
Que é fruto do saber do homem,
E do calor do sol que o amadurece.
Com a ajuda do orvalho matinal,
E das belezas naturais que o rio lhe oferece.

in, Livro "Memórias e Divagações" - Poética Editora





Sem comentários:

Enviar um comentário