segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O Carnaval na minha infância - (memórias)



Foi antanho, é passado,
Mas a memória devolve tudo:
Uma mulher, a roca, o linho fiado,
Mas não se fiavam as barbas ao Entrudo!

Mão ágil, fósforo aceso, a estopa queimada.
Uma pedra que sai da mão,
E a cabeça rachada, ao carpinteiro João.

Uma mulher, as estopas a arder,
A ousadia, o drama, a agressão.
                                
Porque os homens da aldeia faziam tudo,
Para que não se fiassem as barbas ao Entrudo,
Para manter viva a tradição.

Enquanto na cozinha, à luz da candeia,
Quatro gerações junto à lareira,
Festejavam o carnaval, sem máscaras,
Essas coisas do demónio tentador.
Porque só eram permitidas brincadeiras
De deitar farinha na cabeça,
E contar “estórias”, não muito brejeiras…  

E toda aquela boa gente,
De cara descoberta, alegre e contente,
Passava a noite de carnaval,
Com uma estridente gargalhada,
Até ao clarear da madrugada...

Era assim o Carnaval na minha infância,
Em casa dos meus avós maternos,
A tão longa distância…
Onde não eram conhecidos corsos carnavalescos,
Nem desfiles de samba, com foliões pitorescos…


     Desejo a todos os meus amigos um BOM CARNAVAL 2016.

         João de Deus Rodrigues

2 comentários:

  1. Meu caro João de Deus,
    Aqui está um bom poema para a Revista Raízes, que gosta de as recordar.
    Abraço amigo e terraquentense,
    Jorge Sales Golias

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  2. Gostei e quase me senti na sua terra.
    Que maravilha!
    Obrigada pela partilha.
    Um abraço.

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