terça-feira, 26 de julho de 2016

A apresentação do Mar *



Era Inverno, tudo alagado.
Avô, neto e cavalo, o trio.
A chuva tinha amainado,
No vale, furioso, passava o rio.

Águas côr de barro, tumultuosas,
Apertadas no granito, furiosas,
Tinham pressa de chegar,
Ali ao Douro, mais além, ao mar.

Vinham de Espanha,
Cavalgando rochas ao passar.
E de frente, na montanha:
- Olha, meu filho, é assim o mar!

O Mar!
- O que é o mar, avô?
- Nunca o vi, meu filho!
  Mas deve ser grande,
  Como aquele rio!
- E para onde vai o mar, avô?
- Para lá. Para além do fim do mundo.
- E é longe, avô? Podemos ir ver?
- Deve ser, deve ser.
- Levas-me lá, ao fim do mundo?
  Vamos tu, eu e o cavalo.
- Não sei o caminho, meu filho,
  Nem como procurá-lo!
- Seguimos o sol, até o encontrar.
- Já estou velho, meu filho,
  É tempo de ficar.

Mas vai tu.
Vai tu saber do mar.
E quando o encontrares,
Vem por mim, pro abraçar.

In livro "O Clamor dos Campos" - Edições Colibri - (*) Poema alterado


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