quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A cozinha da minha infância

A Cozinha da Minha Infância
Era um espaço amplo de paredes nuas,
Matizadas pelo fumo da lenha ao longo dos anos.
Tinha ao lado o forno de cozer o pão centeio,
E a torreira, separada por escanos de madeira,
Que serviam de mesa e repouso, de permeio.
E ao fundo dois tições de carrasco no trasfogueiro,
Encimados pelas varas do fumeiro,
E potes de ferro, com três pés, corroídos da idade.
Ao lado, sobre o escano, a escrinha do pão centeio.
E guarda-loiças, com cântaros de barro,
Que completavam o recheio.

Era um espaço mítico,
Onde se chorava a morte
E festejava a vida.
E à mesa se agradecia ao Senhor o abençoado pão,
E se escutavam os mais velhos, com redobrada atenção.

Onde, à volta da fogueira,
Três gerações em amena cavaqueira,
Passavam os serões,
Das noites frias de Inverno,
À luz da candeia.

Eram assim os locais,
De salutar convivência,
Na minha aldeia de Morais.

In Livro: "O clamor dos campos" - Colibri Editora

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