quarta-feira, 19 de março de 2014

As estações do Ano




Aqui, nesta galáxia, neste lugar,
Pela mão de um Deus divino,
Anda tanta vida a pulsar,
Num movimento suave e fino,
Numa profusão de luz e cor,
Cantando hinos de amor,
Que não sabemos escutar.

E faz pena, não sabermos meditar,
Nos dons que a Natureza contém.
E, por alheamento e desdém,
Nos enredamos na teia que urdimos,
Segundo a segundo,
Sem tempo para um fraterno abraço,
Que abarcasse todo o Mundo.

Mas eu vou dar asas à minha quimera,
E dizer com verdade, e sem engano,
Quão lindas são a Primavera,
E as outras Estações do ano.     
 
A Primavera.
Oh, que coisa tão bela é a Primavera!
Deixa que te fale dela:
Espaço de tempo, ciclo de criação,
Campos floridos,
Com cheiros que extasiam os sentidos,
E correntes de água cristalina,
Por cachoeiras a saltitar,
Ao encontro do doce mar.
Pelo meio de árvores,
Vestidas de flores e frutos,
E de aves a cantar,
Junto de crisálidas aladas,
Que voam ao encontro da luz,
Que irradia da sombra das suas asas.
E da formiga diligente,  
Que acaricia o abdómen do pulgão,
Enquanto a libélula beija o nenúfar,
À espera do Verão!

Verão,
Tempo de magia.
Quando as crianças pobres, de sorriso no rosto,
Adormecem nuas, à sombra do luar de Agosto,
E sonham com anjos alados ao romper do dia.

Tempo do campo ceifado,
E de arcas cheias de pão sagrado.
Que o homem recolheu,
Observando mariposas,
A dançar no céu.

Época de mares de gente, expondo opulências,
Em areias finas, da erosão do tempo,
Que o vento soprou e o rio levou.

E de danças, em eirados e salões.
E de passeios, entre o céu e o mar,
Em iates e aviões, em dias e noites sem sono,
Em paradisíacas praias de orgias,
Em esplanadas de luar, á espera do Outono.

Outono.
Com tardes curtas e folhas soltas,
De árvores que se desnudam, com o assobiar do vento,
E dançam com a chuva, peneirando a neve,
No cume da montanha, onde a águia-real,
Paira sobre o vale.

Enquanto na adega se prova o vinho,
Em dia de São Martinho,
Com o sabor da castanha assada.
E a coruja mira o sino,
Da torre engalanada.
E o grilo cala o pio.
E a cobra se enrola,
Com medo do Inverno.

Inverno de prendas e agasalhos.
De recolhimento e de Natais.
E de florestas com frio,
E de rios em vales dormentes,
Cantando versos dolentes,
A caminho do mar.
Enquanto pais e filhos escutam os avós,
Ao calor da mística lareira,
Onde se chora a morte e festeja a vida,
Ao som de canções e orações,
Abrigados dos ventos gelados,
Que sopram nos humildes telhados,
Dos casebres onde se ceia à luz da vela,
Enquanto se aguarda a chegada da Primavera.

Primavera que há-de chegar,
Quando Março surgir,
Para o ciclo recomeçar.


(Publicado no livro " O Acordar das Emoções"  - Tartaruga)

Sem comentários:

Enviar um comentário