Aqui, nesta
galáxia, neste lugar,
Pela mão de um
Deus divino,
Anda tanta
vida a pulsar,
Num movimento
suave e fino,
Numa profusão
de luz e cor,
Cantando hinos
de amor,
Que não
sabemos escutar.
E faz pena,
não sabermos meditar,
Nos dons que a
Natureza contém.
E, por
alheamento e desdém,
Nos enredamos
na teia que urdimos,
Segundo a
segundo,
Sem tempo para
um fraterno abraço,
Que abarcasse
todo o Mundo.
Mas eu vou dar
asas à minha quimera,
E dizer com
verdade, e sem engano,
Quão lindas
são a Primavera,
E as outras
Estações do ano.
A Primavera.
Oh, que coisa
tão bela é a Primavera!
Deixa que te
fale dela:
Espaço de
tempo, ciclo de criação,
Campos
floridos,
Com cheiros
que extasiam os sentidos,
E correntes de
água cristalina,
Por cachoeiras
a saltitar,
Ao encontro do
doce mar.
Pelo meio de
árvores,
Vestidas de
flores e frutos,
E de aves a
cantar,
Junto de
crisálidas aladas,
Que voam ao
encontro da luz,
Que irradia da
sombra das suas asas.
E da formiga
diligente,
Que acaricia o
abdómen do pulgão,
Enquanto a
libélula beija o nenúfar,
À espera do
Verão!
Verão,
Tempo de
magia.
Quando as
crianças pobres, de sorriso no rosto,
Adormecem
nuas, à sombra do luar de Agosto,
E sonham com
anjos alados ao romper do dia.
Tempo do campo
ceifado,
E de arcas
cheias de pão sagrado.
Que o homem
recolheu,
Observando
mariposas,
A dançar no
céu.
Época de mares
de gente, expondo opulências,
Em areias
finas, da erosão do tempo,
Que o vento
soprou e o rio levou.
E de danças,
em eirados e salões.
E de passeios,
entre o céu e o mar,
Em iates e
aviões, em dias e noites sem sono,
Em
paradisíacas praias de orgias,
Em esplanadas
de luar, á espera do
Outono.
Outono.
Com tardes
curtas e folhas soltas,
De árvores que
se desnudam, com o assobiar do vento,
E dançam com a
chuva, peneirando a neve,
No cume da
montanha, onde a
águia-real,
Paira sobre o
vale.
Enquanto na
adega se prova o vinho,
Em dia de São
Martinho,
Com o sabor da
castanha assada.
E a coruja
mira o sino,
Da torre
engalanada.
E o grilo cala
o pio.
E a cobra se
enrola,
Com medo do
Inverno.
Inverno de
prendas e agasalhos.
De
recolhimento e de Natais.
E de florestas
com frio,
E de rios em
vales dormentes,
Cantando
versos dolentes,
A caminho do mar.
Enquanto pais
e filhos escutam os avós,
Ao calor da
mística lareira,
Onde se chora
a morte e festeja a vida,
Ao som de
canções e orações,
Abrigados dos
ventos gelados,
Que sopram nos humildes telhados,
Dos casebres
onde se ceia à luz da vela,
Enquanto se
aguarda a chegada da Primavera.
Primavera que
há-de chegar,
Quando Março
surgir,
Para o ciclo
recomeçar.
(Publicado no livro " O Acordar das Emoções" - Tartaruga)
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