quarta-feira, 19 de março de 2014

As Margens




Eras tão linda e tão bela, Maria,
Na magia dos quinze anos,
A brincar com o amigo, junto à Ria!

E ele, também um adolescente
Que queria ser marinheiro,
E correr o Mundo inteiro,
Para te mandar cartas florescentes,
De cidades distantes, como a Lua cheia,
E fotografias de ilhas, com praias de sol
E areia branca, onde um dia prometeu levar-te,
Quando fosses professora, como era tua ideia.

E o tempo passou.
(Como o tempo passa depressa, Maria!)
E o teu amigo embarcou,
Para além do mar, para longe da Ria.
E disse que te amava, na hora que se despedia,
E levou-te com ele.

O mar é lindo para voar, Maria,
E faz crescer o amor com o seu baloiçar.
E quando o teu amigo regressou,
Para te levar à Ilha dos Amores,
No coração do mar,
Tu já não eras a Maria,
Que levou com ele,
No dia que se despediu de ti, junto da Ria.

Não. Já não eras e ficou triste
E chorou, quando te viu prostrada
Nesse mundo, alucinado e louco,
Para onde arrastaram a tua juventude,
Com promessas e sonhos, a que não resististe!

E nem sequer o ouviste,
Quando ele te disse:
- Venho por ti, meu amor.
Vem ver como é lindo o azul do mar,
E terna a luz das praias, onde te prometi levar.

E tu, Maria,
Disseste-lhe que não ias,
Porque as cores do mar não eram tão belas
Como as que tu vias, a levitar nas estrelas,
E ficaste ali, no delírio que te consumia,
A ver o amigo partir sozinho
Para aquela ilha, onde te queria levar,
Com palmeiras e areia branca, no meio do mar.

E a noite caiu breve, ao romper da madrugada.
(Ai, como a noite caiu depressa, Maria!)
E tu ficaste a jazer, sozinha e amargurada,
Nesse mundo de euforia, sem amigo, ou alguém,
Para chorar por ti, junto à Ria,
De onde, em breve, partiste também.


(Publicado no livro: "Passagens e Afectos - Tartaruga)


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