sábado, 4 de janeiro de 2014

A cozinha da minha infância




Era um espaço amplo de paredes nuas,
Matizadas pelo fumo das estevas com o passar dos anos.
Tinha ao lado o forno de cozer o pão centeio,
E a torreira, separada por escanos,
Que serviam de mesa e repouso, de permeio.
Ao fundo dois tições de carrasco no trasfogueiro,
Encimados pelas varas de fumeiro,
E potes de ferro, com três pés, corroídos pela idade.
Ao lado, sobre o escano, a escrinha com pão centeio.
E guarda-loiças com cântaros de barro,
Completavam o recheio.

Era um espaço mítico onde se chorava a morte
E festejava a vida.
Onde à mesa se agradecia ao Senhor o abençoado pão,
E se escutavam os mais velhos, com dobrada atenção.
Onde, à volta da fogueira,
Três gerações em amena cavaqueira,
Passavam os serões, nas noites frias de Inverno,
À luz da candeia.

Assim eram as vivências na minha aldeia!


(Publicado no livro "O Clamor dos Campos" - Edições Colibri)