sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O clamor dos campos




Os campos da minha aldeia estão tristes,
Sozinhos e abandonados, na solidão da noite,
À erosão do tempo.
Eles não querem estar assim e clamam:
- Homens e mulheres, trazei crianças e animais.
Vinde depressa, para nossa companhia.
Precisamos das carícias das vossas mãos,
Do som dos vossos passos,
Do grito dos vossos filhos,
De escutar a vossa voz.
Regressem. Não nos deixem ficar sós!
Até o uivar dos lobos e o balido das ovelhas
Nos abandonaram.
Os pastores, tristes, derrubaram as cabanas,
Levaram os cães e partiram.
Os lavradores, esquecidos primeiros,
Levaram consigo o chiar dos carros,
O ranger do arado e o canto dos ceifeiros.

Já nem o pedinte, mendigando o pão de cada dia,
Nos faz companhia.

Só nos restam as flores silvestres,
Que o fogo não consumiu.
As aves com seu cantar.
O cintilar das estrelas.
E os rios que vão pró mar.

São mágoas que nos consomem,
Com a tua ausência, homem.



(Publicado no livro "O Clamor dos Campos" - Edições Colibri)