segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

... E as Tuas Primeiras Decisões e Profecias.




Rio Sabor,
Tu, como era um deus-rio sábio e bondoso,
Fizestes uma escolha boa e harmoniosa,
Ao escolheres um local aprazível,
Servido por gente honesta e bondosa,
Com espaços abertos e despoluídos,
Para as aves voarem em todos os sentidos.

Com lindas espécies da fauna e da flora,
Que lá nasceram em boa hora,
Para embelezarem a mãe-Natura.
Essa doce e generosa criatura,
Que zelou por eles, por ti, e por nós,
E que te ampara da nascente até à foz.

E um leito, granítico e inclinado,
Para no Inverno correres veloz,
Os cento e vinte quilómetros da tua extensão,
Por entre sombras de luz e paz,
Ladeado de rochas cantantes,
Que devolvem o eco timbrado
Das canções dos pastores,
Que apascentam o gado.
E a dos lavradores e ceifeiros,
Que recolhem o pão sagrado.

E para completar esse Éden,
Cavaste vales, estreitos e profundos,
Para reterem o sabor e o cheiro
De frutos e de flores silvestres, o ano inteiro.

E depois, para além de tudo isso,
Ainda profetizaste:
- Não haverá nas minhas águas,
Em tempo algum, guerras.
Nem barcos movidos a vapor;
Nem submarinos nucleares;
Nem pontes metálicas com andares;
Nem auto-estradas a quebrarem o sossego;
Nem o TGV a passar sobre mim,
Para transportar doutores para o emprego...;
Nem outras modernices assim…

E de facto assim foi, profeta rio Sabor.
Porque, durante milhões de anos,
E até ao presente,
Cumpriu-se a tua profecia,
Para desespero de muita gente.


(Publicado no livro "Homenagem ao Rio Sabor" - Tartaruga)