Era Inverno, tudo alagado.
Avô, neto e cavalo, o trio.
A chuva tinha amainado,
No vale, furioso, passava o rio.
Águas de barro, tumultuosas,
Apertadas no granito, furiosas,
Tinham pressa de chegar,
Ali ao Douro, mais lá, ao mar.
Vinham de Espanha,
Cavalgando rochas no passar.
E em frente da montanha:
- Olha, meu filho, é assim o mar!
O Mar!
- O que é o mar, avô?
- Nunca o vi, meu filho,
Mas deve ser grande,
Como aquele rio!
- E para onde vai o mar, avô?
- Para lá. Para além do fim do
mundo.
- E é longe, avô, podemos ir ver?
- Deve ser, deve ser.
- Levas-me lá, ao fim do mundo?
Vamos tu e eu, e o cavalo...
- Não sei o caminho, meu filho,
Nem como procurá-lo.
- Seguimos o sol, até o encontrar...
- Já estou velho, meu filho,
É tempo de ficar.
Mas vai tu.
Vai tu, saber do mar.
E quando o encontrares,
Vem por mim, pro abraçar.
(Publicado no livro " Passagens e Afectos" - Tartaruga)
(Publicado no livro " Passagens e Afectos" - Tartaruga)