Eu fiz um carro,
De ladeira,
Com quatro tabuinhas,
Arrancadas da capoeira.
E pus-lhe um volante
E duas rodas e um eixo,
Tosco,
De pau de amieiro,
À maneira de arrocho.
As rodas, de cortiça,
Não chiavam.
E os pedais e o travão
Eram os pés,
Fincados no chão.
Para baixo,
Trazia-me ele.
Para cima,
Levava-o eu.
Como o tempo era nosso,
Quando ele tombava
Caía eu.
Era assim,
O meu carro de ladeira,
Sem travões nem direcção.
Mas que servia, perfeito,
À minha admiração.
(Publicado no livro "Passagens e Afectos" - Tartaruga)